Talvez a experiência mais forte com o autoritarismo leve-me aos primeiros anos do Século XXI, eu ainda jovem, cheio de ideias e ações em comunidade. Há menos de uma semana havia sido entrevistado em matéria veiculada no jornal matinal de cobertura estadual na televisão. A campanha, organizada por diferentes entidades da pequena cidade tinha sido um sucesso, participação do comércio, entidades, poder público... a ideia, aliás, era muito simples, melhorar o visual da área central com paisagismo. Contudo, o primeiro problema surgiu com nossa crônica defasagem cultural e nossas falhas sociais enquanto cidade, portais convidativos ao vandalismo. À época já escrevia em português muito defeituoso em um jornal da cidade. Foi numa pequena coluna que desabafei contra o vandalismo e contra a ineficiência dos agentes de segurança pública. Que me recorde, os atos de vandalismos não tiveram qualquer investigação e jamais foram identificados os autores, eu, contudo, acabei sendo convocado extraoficialmente à sala do Comandante da Brigada Militar do município. Talvez não tanto pelo conteúdo de minhas críticas publicadas em papel, mais pelo fato de que o próprio teria levado um "esbrega" do comando regional. "Eu ia lhe incomodar, mas só obtive boas informações de ti" dissera-me o alemão corpulento, engrandecido pela farda e pela pobreza da pequena sala onde estávamos. "Mas achei melhor conversar antes, mas a coisa não pegou bem para nós..." Foi uma boa meia-hora em que ouvi diferentes ameaças veladas e o quanto minha coluna havia sido incômoda. Talvez ali tenha se revelado uma postura conciliadora, pragmática ou na pior das hipóteses, submissa de minha parte. Não retratei-me como queria o comandante, um pedido de escusas formal, mas para evitar maiores transtornos, pois não faltaram conselhos dizendo-me dos riscos de enxertamento, encontrei um meio-termo, narrando as dificuldades do órgão na coluna seguinte. Eram tempos de relativa calmaria no país, publicamente debates sobre autoritarismo não faziam parte dos debates nacionais. Ainda assim, o vivenciei na prática.
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